O que torna uma calçada segura?
Não apenas posso citar minha experiência, como posso detalhar algumas. Além disso, posso também sugerir algumas ações nesse sentido.
Falando em um sentido amplo, pois o que acontece comigo é o que em geral acontece com a maioria de nós, pessoas com deficiência, visual e às vezes com outras deficiências. Dando um simples exemplo: quando nos é possível, planejamos nosso entorno, ou seja, nossa casa, da maneira mais acessível possível e quando saímos do portão para fora, torcemos o pé em uma pedra pequena, deixada por alguma empresa de “manutenção” da cidade.
Alguns questionarão: “ora, mas aí também não dá para impedir, uma simples pedrinha...”
Só o que posso responder é: coloca na conta.
Em outro momento, a torção é por conta de um buraco e ele nem precisa ser tão grande, mas basta que ele esteja lá e que a bengala não o alcance, isso acontece mais do que se possa imaginar. Agora pensem em quem usa moletas, cadeira de rodas, prótese, etc. Acrescente a isso uma calçada estreita, preciso desenhar?
Mas me foi solicitado um exemplo em que tenha vivido, uma determinada situação: “eu estava andando pela calçada, indo a um mercado perto de minha casa, não precisava atravessar nenhuma rua, estava sozinha, mas lembre-se que sou cega, no meio do caminho havia um obstáculo, estavam consertando a calçada, (ação extremamente necessária), colocaram um aviso, uma faixa que, deveria avisar as pessoas uma passagem, rsrs, só rindo, né?
O resultado é que minha sandália ficou cheia de cimento fresco, fiquei assustada, não entendi nada, mas senti um material grudando em mim sem saber o que era. Era a faixa, o povo que estava na rua começou a gritar, mas só depois que eu já estava com os dois pés no cimento. É por essas e outras que eu não gosto de andar sozinha!
Em outro momento, estávamos eu, minha amiga Irene, e outros amigos com deficiência visual, alguns cegos e outros com baixa visão. Em terra de cego, quem tem um olho é escravo de quem não tem nenhum, ou seja, os baixa visão guiam os cegos e não foi diferente nesse dia.
Acontece que a Irene não viu o orelhão e dei de cara com ele. Ela me guiava à sua direita e outra pessoa que estava à esquerda dela, sentiu uma dor intensa, e nunca nos esqueceremos dela.
Outro exemplo, de outros usuários da Instituição Laramara, costuma ser encontrado no meio do caminho até o metrô com a entrada muito confusa de um estacionamento, que muitas vezes nos fazia entrar, deixando-nos desconcertados e confusos, mas com o tempo, nos acostumamos com ela.
Não vou ficar falando das inúmeras calçadas que me fazem ir para a rua por conta de lixo e buracos ou obstáculos, isso a essa altura, me parece literalmente grandes absurdos.
O que penso é que tão importante quanto identificar o melhor trajeto, é melhorar os já existentes, tornando urgente definir uma padronização de calçadas e é ainda mais necessário definir quem é de fato o responsável pelas calçadas.
Hoje em São Paulo, me parece que é o munícipe. Se isso for verdade, ele deverá ser orientado, recebendo informações para se locomover. Inclusive, a maioria da população não tem condição de fazer a pavimentação de sua calçada, mas a prefeitura poderia fazer isso para os cidadãos, discutindo as melhores soluções.
O fato é que, a calçada para além da segurança das pessoas, com ou sem deficiência, deve assegurar o ir e vir daqueles seja por qual razão, tem alguma limitação, que é ampliada pela não existência ou má conservação das calçadas.
Saliento também que as cidades não se resumem aos centros!
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